Entrei.
Sentei.
Meu olhar percorre o espaço.
Espero.
Faço juízos indefinidos e espero novamente.
A porta desloca-se.
Abriu-se.
Um vulto entra em cima de uns saltos altos e finos, clássicos, pretos, bonitos, femininos, transportando um corpo com perfil sumarento e silvestre envolvido por cabelos negros, compridos, cobrindo um rosto destemido, moreno, esguio, e com passos meticulosamente ensaiados e perfeitos caminha num som atrevido.
Os sapatos denunciaram-na .
Eu vi.
É olhando nos sapatos que adivinho o estado emocional dela.
As metas e expectativas, a sua auto-estima está em alta, está disponível para sexo. Alguns tipos de sapatos femininos, como mocassins e ténis, são sexualmente neutros, mulheres que usam habitualmente esse tipo de calçado não se preocupam em propagar agressivamente a sua sensualidade. Uma mulher de salto alto é uma sereia, olhada tanto por homens como mulheres – embora por motivos diferentes. Agora penso e entendo finalmente o porquê da preferência do príncipe pela Cinderela em vez das filhas de sua madrasta: só ela possuía pés e sapatos de salto alto tão perfeitos que tirariam qualquer um do sério.
O fumo solta-se do meu cigarro entre uma e outra tragada, minha única companhia desta noite neste bar. Pessoas animadas, diferentes, gordas, magras, acompanhadas espalham-se pelos lugares e eu...
sozinha observo.
Com papel e uma caneta ora escrevo ora levanto o semblante e aprecio comportamentos de quem foge de uma vida atinada e tira umas horas para se libertar.
Ninguém me vê.
Penso eu.
Continuo a divagar, a fazer juízos de valores mas resignando-me à minha invisível e humilde existência.
A música parece-me animada.
Aprovo.
As idades misturam-se, faz-se um encontro de gerações e vivências camufladas.
A noite corre num ápice, tal como meus devaneios...
Continuo sozinha...
Preocupante?
Não!
Apenas uma opção intrigante , misteriosa para uns, estranha para outros, para mim a mais perfeita, tão perfeita que atrevo-me a pedir uma super-bock sem álcool a um moreno escultural, alto que por ali servia...
A tal de salto alto levanta-se.
Isto interessa-me.
Um dia destes compro uns saltos assim. A ideia faz-me cócegas no dedo mindinho do pé. Sei que me vai aumentar a auto-estima, vou parecer irreconhecivelmente maior, em contrapartida aniquilará o meu dedo preferido. O salto alto foi considerado uma arma mortífera, embora pareça um grande exagero, mas mesmo assim uma mulher com saltos muito altos e finos de facto parece estar com um objecto mortífero atado aos pés. Por isso eu estava bastante atenta a cada movimento pronunciado por aquela mulher que tinha entrado ali com o seu ar à “El Matador”.
Levantei-me.
Paguei.
E fui dormir.
Amanhã comprarei uns saltos altos.
Boa noite!!
Segredos de Khadija!!
. Morri
. Molhando meu corpo lavo m...
. "só amamos quando nos toc...
. O sono
. Crónica de uma velhota lo...
. ...Fechada para balanço.....
. Amo-te!
. Pára e pensa na correria ...
. A Indomável, a Inesquecív...
. Um fim de semana no paraí...
. Voltei!
. Completamente apaixonada!...
. Lua Azul