Na solidão dos tempos mortos
Peguei numa lágrima de uma pedra
E pousei-a numa folha de papel nua
Com a ponta de um dos meus dedos
Calejados pela voragem dos anos
Da ponta de uma caneta de esmalte
Fiz um pequeno furo no olho da lágrima
Libertei de seu ventre um perfume de sangue
Sobre o pedaço de papel desalmado
E do grito da tinta-da-china soltei as palavras
Que guardei a sete chaves no rés-do-chão da alma
Movida por um sopro do coração
Revolvi das escamas do vazio os frutos do silêncio
Apenas com a minha caneta de esmalte
Abri portas de novos mundos, dei luz e côr ao sentimento
E num verso pedi ao tempo que por um momento
Deixasse de ser tempo
Fiz das palavras que escrevi
Tatuagens feitas de cinzas
Cinzas de memórias apagadas
Pedaços de uma vida que confesso que vivi
Fiz das linhas que escrevi
Aquarelas de miragens de lembranças escondidas
Lembranças de momentos de dor e de euforia
Feitas com as cores que compõem a tela da vida
Fiz da palavra, estrutura
Fiz do poema, arquitetura
Da ponta de uma caneta de esmalte
Soltei do ventre do tédio o grito da águia
Soltei do limbo a sinfonia dos ecos mudos
Que habitam no silêncio das sombras
E da profundeza dos abismos, a eterna melodia
Onde, hoje, apenas sigo o meu destino.
Os Segredos de Khadija!!